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  • Foto do escritorEduardo Machado Homem

Conscientizando Líderes: Riscos, Cultura e Gestão.

Atualizado: 30 de jan.


Eduardo de camisa zul sentado numa mesa com o notebook e a frase: Os líderes entendem o que vocÊ está falando sobre risco e cuidado?

Já houve um tempo em que eu acreditava que, através das minhas ações e de outras motivadas pela minha gestão em segurança, as pessoas poderiam mudar e assumirem um comportamento seguro em situações de riscos e serem mais prevencionistas nas suas atividades.


Eu não consigo me lembrar, exatamente, quando a virada de chave sobre cultura e gestão aconteceu para mim, isto é, a partir de qual momento eu passei a entender a atuação do profissional de segurança como um influenciador, um consultor, um treinador, um direcionador e um líder em segurança. Foi uma evolução de compreensão a partir de muito estudo, experiências, fracassos e sucessos.


Eu gosto muito de um texto de Tomás de Aquino que diz o seguinte: “Uma pessoa não pode induzir alguém eficazmente à virtude. Pode apenas dar conselho, mas se seu conselho não é aceito, não tem força para induzir alguém à virtude. Quem tem esta força é a multidão ou alguém que pode infligir consequências”.


Interpretar esse texto para entender as relações humanas e aplicá-lo à realidade das organizações é um desafio e um atalho muito bom para a compreensão de como podemos atuar para influenciar o comportamento das pessoas. Essa pequena citação chama a atenção para a importância que a "multidão", ou seja, o meio social, técnico e organizacional em que vivemos, tem sobre nossas atitudes, ações, decisões e comportamentos. A citação também esclarece que, de uma maneira imediata e menos educativa e perene, a aplicação de consequências pode moldar nosso comportamento, mas não pode educar para o futuro, sendo que a influência da consequência cessa assim que ela é removida ou esquecida.


Você já deve ter ouvido um outro ditado que diz assim: “se conselho fosse bom, eu vendia”. Esse ditado se aplica apenas para aquelas pessoas que colocam preço no seu conhecimento, não enxergam valor no que dizem e acreditam que, mesmo assim, todos deveriam pagar o preço por ouvi-las.


O cuidado ativo, o comportamento seguro, a disciplina operacional, o sentimento de dono e muitas outras competências relacionadas à gestão de segurança podem fazer muito pela sua organização se você souber como educar, usar e quando usar.


É impossível oferecer a receita pronta a cada empresa, um pacote fechado ou uma bula de como usá-los, afinal, se cada ser humano é único, cada organização também é única, por mais que alguns problemas pareçam e sejam similares. É como dizer que todas as frutas são doces, mas cada uma tem o seu sabor. Ou seja, todas as empresas têm os mesmos problemas, mas cada uma lida de uma forma distinta com eles. Aplicar as mesmas soluções para todos é um equívoco crítico.


Eu sou um fã entusiasmado do discurso sobre a importância do cuidado à vida, o cuidado ativo e sobre a vida como um valor, mas como disse Tomás de Aquino, não acredito que o discurso despertará em todas as pessoas essas mesmas competências ou virtudes. Não acredito que mudar o nome da área de Segurança para área do Cuidado seja algo que deva ser levado à sério. Temos essa mania de ficar no superficial pelo medo do que nós encontraremos mais para baixo, no fundo. A questão que importa é que a solução não está na superfície, mas bem lá no fundo.


Cada líder ou liderado desperta para um momento de lucidez sobre a importância de cuidar da integridade física e mental das pessoas no seu próprio tempo, não adianta forçar, mas você pode e deve aconselhar e influenciar. Entenda que, por mais competente que a parteira ou o (a) obstetra seja, eles não conseguem dar à luz a uma mulher que não esteja grávida.


Sabendo que as competências e virtudes que levam ao comportamento seguro, ao cuidado ativo e à vida como um valor não serão despertadas em todos ao mesmo tempo, o que fazer para alcançar uma performance extraordinária em segurança? Mais: a cultura de segurança madura só será atingida quando todos tiverem despertado para as competências de segurança?


Felizmente, as respostas para essas perguntas deixam claro que há um caminho conhecido para buscar a cultura de segurança e os frutos desse esforço serão conquistado tão antes quanto maior e mais genuíno for o compromisso da organização e seus líderes.


O compromisso genuíno da organização e seus líderes é fator crítico de um projeto de elevação da cultura de segurança a um padrão de classe mundial. Os avanços serão poucos ou meramente ilustrativos se a organização e seus líderes não entenderem que, antes de dar o primeiro passo, vários paradigmas deverão ser revistos.


O primeiro obstáculo a ser transposto está na falsa premissa de que produtividade, produção e comportamento seguro são incompatíveis. Na realidade, no curtíssimo prazo parecerão incompatíveis, pois muitas situações se colocarão para que líderes decidam entre fazer o que é certo ou produzir de forma insegura e sem controle. A decisão errada, ou seja, escolher produzir apesar dos riscos descontrolados, será uma mensagem muito clara para a operação do quão sério é o compromisso estampado em quadros e falado nas reuniões e DDS.


Portanto, qualquer esforço sobre a cultura de segurança deve, obrigatoriamente, ser precedido do compromisso da organização e seus líderes, de forma genuína. E esse compromisso significa, necessariamente, recurso financeiro. É um recurso necessário para contratar uma equipe de segurança competente, para treinamentos técnicos de qualidade, para tratamento de vulnerabilidades legais, para fomento de um bom programa de levantamento e prevenção de riscos etc.


Concomitantemente a esse compromisso da organização, é essencial que a liderança passe por um processo de desenvolvimento de competências de segurança: disciplina operacional, sentimento de dono, percepção de riscos, liderança pelo exemplo etc. A liderança precisa saber qual o seu papel e como agir em cada situação que será colocada na sua frente. Se atitudes e posicionamentos foram exigidos dela sem que ocorra uma preparação, o resultado será terrível e contraproducente.


O diagnóstico da cultura de segurança também é uma etapa vital. Pela obra de Charles Lutwidge Dodgson, podemos dizer que para aquele que não sabe onde está e nem para onde deseja ir, qualquer caminho serve. Para líderes isso não é aceitável, ou seja, a organização deve saber qual o nível da cultura de segurança em que se encontra para poder detalhar um plano de avanço com ações estruturantes.


Ajude outras pessoas a despertarem para o que é bom e para a importância da integridade física e mental das pessoas.


Tenha uma boa semana!

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