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  • Foto do escritorEduardo Machado Homem

Liderança e as expectativas sobre sua atuação em segurança.

Quando eu estudei engenharia, não tive uma disciplina que falasse sobre segurança do trabalho, nem de forma superficial.


Há alguns anos eu pesquisei a ementa de diversos cursos de engenharia, arquitetura, administração, farmácia e alguns outros mais visados pelo mundo corporativo, nas principais universidades do Brasil. Essa pesquisa informal revelou algo que eu já imaginava: o tema segurança do trabalho não era abordado na maioria dos cursos e quando o era, temas superficiais eram mencionados brevemente.


É complicado defender que segurança do trabalho deve ser parte importante de um curso superior, pois se toda área de suporte como SSMA (saúde, segurança e meio ambiente) exigir o mesmo, qualquer curso superior levaria 10 anos para ser concluído. Imagine incluir qualidade, finanças, gestão de pessoas, segurança do trabalho e competências de liderança em todo curso voltado para o meio corporativo. Seria um curso sem fim.

Menciono o fato de segurança do trabalho não fazer parte da ementa de cursos técnicos e superiores para que você entenda que, assim como eu, a maioria dos profissionais só tem contato com o tema segurança quando conseguem um trabalho numa empresa que se importe e seja engajada com este tema. E nós sabemos que não há tantas empresas com esse perfil e com vagas disponíveis.

Portanto, fica fácil concluir que, provavelmente, há líderes da sua empresa que não sabem o que significa segurança do trabalho e qual o papel deles nesse contexto de cuidar de pessoas, valorizar a vida, gerir segurança e assim por diante. É natural que eles pensem que é uma responsabilidade do SESMT.

Em conversas recentes com alguns gestores de SSMA/EHS/HSE de grandes organizações, eles comentaram que durante a pandemia foi perdido muito do engajamento dos líderes na gestão de segurança. A razão citada foi o fato de o foco estar em manter a operação com tantos afastamentos e com o trabalho remoto de equipes de apoio e líderes. O que mais impressiona neste contexto é o recorde de produção e de lucratividade dessas grandes organizações, justamente nas condições mencionadas. Conclusão óbvia: aquilo que não fazia parte do modo de ser e operar foi deixado em segundo plano. Foi preciso uma pandemia para entender que, por mais que se pensasse o oposto, a cultura de segurança ainda é dependente da fiscalização e esforço do SESMT.

Profissional de segurança do trabalho, não se iluda. Antes de falar sobre cultura de segurança, valor, cuidado ativo e liderança pelo exemplo em segurança, você vai ter que carregar a rotina de SSMA nas costas, fazer muita palestra de conscientização, convencer líderes a gastar em campanhas de comunicação, argumentar ferozmente por investimentos em proteções e controles efetivos de riscos e conversar muito para conseguir implementar aquilo que já é uma obrigação: normas regulamentadoras.

Para quem não entendia antes, a nova NR1 e o PGR veio para afirmar que normas regulamentadoras é sobre gestão de risco e não sobre um atendimento legal apartado dos outros aspectos do negócio e da vida das pessoas.

Para construir um muro, você deve colocar um tijolo por vez. Para derrubá-lo, algumas marretadas são suficientes. Entenda cada tijolo desse muro da segurança como uma campanha de comunicação, um treinamento, um novo epi, um novo requisito legal atendido e assim por diante. Não fique se cobrando ou falando mal do local onde você trabalha porque lá não tem certificação ISO ou porque lá não se fala sobre o que há de mais novo em SSMA ou porque lá os líderes não se importam com a segurança das pessoas.

Nada poderia ser mais terrível do que os trabalhadores acreditarem nesse discurso derrotista e que não constrói nada de bom. E o que estou escrevendo aqui não significa que você deve ser complacente ou olhar para o outro lado quando perceber algo errado. Encare o desafio de trabalhar em uma empresa que ainda não engaja seu time de líderes na direção de uma operação mais segura como uma oportunidade de aprendizado. Afinal, mar calmo nunca fez bom marinheiro.

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