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Da Cultura de Culpabilização à Compreensão: O Paradigma da Segurança?

  • Foto do escritor: Eduardo Machado Homem
    Eduardo Machado Homem
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

Fundo azul com logo da Do Safety: Cukpa ou Compreensão: Paradigma da Segurança?

Há quem acredite que o campo da segurança do trabalho está dominado por uma cultura de culpabilização e que a responsabilidade disto está naquilo que hoje identificamos por Segurança Baseada em Comportamento.


Quando um acidente ou um erro acontece, a primeira e mais comum reação desta filosofia ou metodologia seria buscar quem errou, e não o porquê ou o o que permitiu que aquilo acontecesse. Essa visão de modelo, enraizado em uma visão simplista da falha humana, trata o erro como uma falha de caráter, uma falha moral ou uma desobediência individual. A punição se tornaria uma resposta padrão, na esperança de que o medo inibiria futuros erros.


No entanto, não é bem assim.


É real que a culpabilização está largamente presente em muitas organizações e encontrou terreno fértil na gestão de segurança. Essa abordagem se mostrou ineficaz e limitadora, pois negligenciava a complexidade do ambiente de trabalho e as múltiplas variáveis que influenciam o comportamento humano.


A resposta para essa situação seria uma segurança moderna que propõe uma mudança radical de paradigma: da culpa à compreensão. Em vez de focar no indivíduo, essa nova visão, muitas vezes associada a abordagens como a Human and Organizational Performance (HOP), olha para o sistema como um todo. O erro humano não é visto como uma causa, mas sim como um sintoma de problemas sistêmicos subjacentes. É a ponta do iceberg, um reflexo de falhas na gestão, nos processos, na comunicação, nos equipamentos ou na cultura da organização.


Para entender essa transição, vamos a um exemplo prático. Imagine um operador de uma máquina que burla a proteção de um equipamento. Em uma cultura de culpa, a conclusão imediata seria que ele é negligente, irresponsável ou desobediente. O foco da investigação seria a atitude dele, resultando em uma punição. No entanto, uma análise mais aprofundada, baseada na compreensão, revelaria que a máquina tinha um problema recorrente que a fazia travar. A única maneira de desbloqueá-la rapidamente era burlando o sistema de segurança, pois o procedimento correto levava horas para ser executado e a pressão por produção era imensa.


Nesse caso, o operador não agiu de má-fé; ele estava tentando resolver um problema sistêmico. O erro não era dele, mas do sistema que o colocou em uma situação impossível de resolver sem assumir um risco. O verdadeiro aprendizado acontece quando a organização reconhece que uma pessoa é apenas uma peça do quebra-cabeça.


O contexto organizacional, a pressão por resultados e a complexidade do ambiente são os verdadeiros pesos que influenciam as ações e criam as condições para que falhas aconteçam. A segurança de verdade está em proteger as pessoas, mesmo sabendo que elas cometerão erros, pois o erro humano é uma realidade. Isso não significa ignorar o comportamento individual, mas sim entender que a mudança de comportamento só se sustenta quando o sistema que o cerca também é aprimorado.


E se eu lhe disser que essa nova interpretação aconteceu em um ambiente em que a Segurança Baseada em Comportamento era a filosofia reinante e não o HOP? Não se trata de invalidar a filosofia HOP, muito pelo contrário. Estude-a e entenda-a profundamente. Você vai entender, eventualmente, que o desafio não está na filosofia em si, mas na aplicação e na forma que ela se dará quando o conflito acontecer e o líder tiver que tomar uma decisão.


Se mudarmos a filosofia e aplicarmos no mesmo ambiente em que o BBS, em tese, falhou, qual você acha que será o resultado? Mudar a entrada sem mudar o meio e querer um resultado diferente é loucura.

 
 
 

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