
A máxima de que a segurança não é ausência de acidente, mas a presença de capacidade e/ou controle se tornou um mantra na área de segurança e questioná-lo se tornou quase uma heresia.
A filosofia nos mostra que existem poucas verdades absolutas e inquestionáveis nesse mundo e questionar aquilo que é dito como uma verdade é um exercício que leva as pessoas a pensarem melhor.
Há algum tempo venho pensando sobre a frase “segurança é presença de capacidade” e percebi que para ela ser verdadeira, algumas condições precisam preexistir.
Logo no início da obra Ética a Nicômaco, Aristóteles escreveu o seguinte: “Aquilo que se objetiva é às vezes o exercício de uma capacidade, e outras vezes algo que vai além do exercício dessa capacidade. Onde existe uma finalidade, além da ação (ou capacidade), o resultado é melhor que o mero exercício da capacidade”.
Para que a frase “segurança não é a ausência de acidentes, mas a presença de capacidade” seja verdadeira, seus indicadores não podem refletir o resultado real, ou seja, ou a ausência de acidente é um fruto da probabilidade agindo a seu favor ou os indicadores estão maquiados. No primeiro caso, você está contando com a sorte, no segundo caso, a ética está em falta ou porque os acidentes não são reportados ou porque a liderança esconde os acidentes reportados.
Contar com a sorte não é um problema. Para um goleiro não sofrer gol ele precisa defender as bolas e contar com a sorte para aquelas bolas que ele não alcançar. Agora, em relação à ética, não podemos negociar ou ficar contemporizando.
Para que a frase “segurança não é a ausência de acidentes, mas a presença de capacidade” seja verdadeira, além do que já foi dito, também é preciso que a gestão de segurança seja efetiva, real e verdadeira, ou seja, que os líderes se comprometam e estejam engajados e que a gestão de risco aconteça de forma plena.
Logo, quando você diz que na sua empresa a segurança não é a ausência de acidente, mas a presença de controle, você está afirmando o seguinte:
- os líderes da minha empresa não estão engajados e comprometidos;
- a gestão de risco não funciona;
- os acidentes não são reportados e;
- indicadores de acidentes estão maquiados.
Partindo do pressuposto de que você busca com o seu trabalho engajar os líderes, fazer a gestão de risco adequadamente e reportar os acidentes de maneira ética, segurança para você é a ausência de acidente. Se isso não acontece na sua empresa, o problema não é definir o que é segurança, mas fazer segurança. Qualquer coisa diferente disso não é fazer segurança, é proselitismo, isto é, a intenção de converter pessoas, ou determinados grupos, de uma determinada ideia.
Voltando à frase de Aristóteles, suas ações devem ir além ao mero exercício da capacidade, é preciso ter uma finalidade, como a ausência de acidente, para que o resultado seja o melhor que seja possível obter.
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