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Segurança, Esperança, Liderança e Você.

Foto do escritor: Eduardo Machado HomemEduardo Machado Homem

O mundo e a empresa que desejamos são aqueles lugares em que pessoas fazem o que é certo porque entendem o que é o certo a ser feito. E isto que definimos como o certo a ser feito é norteado por valores humanos e pela ética da convivência, respeitando direitos, exercendo obrigações e colaborando para o bem alheio.

Este ideal de mundo não é algo novo ou próprio da nossa época porque estamos sendo desafiados por acontecimentos globais e locais que espelham a pobreza na virtude e a fartura no egoísmo do ser humano. Filósofos e pensadores de antigamente e de agora se dedicam à construção do espírito virtuoso nos humanos há mais de 10.000 anos e, pelo que percebo, ainda não tiveram sucesso. E pouco se indica que esse êxito se avizinhe.

Dentro do ambiente de negócios, tentamos convencer e conscientizar líderes, gestores e empregados a cuidar, se importar e proteger a si e aos outros. Os dados oficiais de acidente de trabalho mostram que não estamos tendo sucesso. As reduções de acidente de trabalho e fatalidades, assim como seu aumento, seguem a tendência da redução e do crescimento da atividade industrial. A impressão que fica é que o que se faz em termos de proteção das pessoas pouco importa para a ocorrência de acidentes, em termos gerais. Tenha em mente que eu não estou falando do quão efetivos estão sendo os esforços de uma unidade industrial ou agrícola de uma única empresa específica. Em um corpo consumido pelo câncer, a audição pode estar funcionando perfeitamente. Em um cenário trágico de acidentes de trabalho que não reduzem significativamente, uma única empresa pode ver seu desempenho de segurança melhorar.

Há uma personalidade conhecida, Cesare Beccaria, que me foi apresentado em uma palestra de um profissional do direito que dizia que o temor por cometer um crime não virá da pena, mas da ausência de impunidade e que, portanto, o fim mais produtivo de uma legislação é agir para a prevenção dos crimes ao invés de se dedicar a punir aqueles que os comete.

Na nossa vida cotidiana você entende o que Beccaria defende quando percebe que o Brasil possui leis severas para muitos crimes e, inclusive, para aquelas situações em que os acidentes de trabalho acontecem. O Brasil possui uma das melhores legislações para regulamentação das proteções individuais e coletivas dos trabalhadores: as normas regulamentadoras e outras leis específicas. Mas isto não tem evitado que os acidentes de trabalho se mantenham em um patamar alto e não apresentem tendência de redução.

Não é novidade para ninguém que o Brasil é o país da impunidade. E isso também ocorre em segurança do trabalho. A fiscalização é pífia e a notificação ainda mais rara. A adequação das empresas às normas de proteção do trabalhador e de prevenção de acidentes é pouquíssimo fiscalizada. Acredite e aceite: esta situação não vai mudar em função do discurso sobre cuidado ativo e da vida em primeiro lugar.

A omissão de cada gestor, líder e profissional de segurança também contribui enormemente para o atual terrível cenário de acidentes de trabalho. Um exemplo típico da omissão que estou tratando é a situação que vivi recentemente. Eu recebi uma demanda de um cliente para realizar uma palestra sobre segurança do trabalho cujo objetivo principal seria reconhecer os líderes e gestores pelos esforços na busca do de um ambiente seguro.


Numa pesquisa rápida na internet, li notícias de fevereiro de 2021 sobre uma fatalidade em uma das suas unidades. Quando pesquisei sobre o ano de 2020, mais acidentes fatais. Na minha ingenuidade típica, conversei com a área corporativa sugerindo uma outra estratégia de comunicação para a palestra, afinal, as fatalidades recentes não justificavam qualquer reconhecimento, muito pelo contrário. Sugeri que a palestra fomentasse um momento de reflexão sobre o compromisso de cada um com a vida daqueles que trabalham e convivem conosco. Infelizmente, não consegui convencê-los e abdiquei de fazer a palestra por problemas de agenda.

Para reverter esta situação nós precisamos, inicialmente, lançar mão de uma estratégia em segurança que, obrigatoriamente, envolva um sistema de gestão de segurança, principalmente a gestão de riscos e a gestão de requisitos legais e normas. Para alavancar essa gestão, é primordial convencer e conscientizar líderes de suas obrigações sobre a vida e integridade das pessoas.

Não fale de valor à vida ou de segurança em primeiro lugar quando seu sistema de gestão ainda é incipiente e sua liderança não demonstra algum engajamento satisfatório. Isso é um erro, pois equivale a dar um aval para a ausência de engajamento em segurança. Esse discurso é recebido pelo líder como uma justificativa para a performance ruim de acidentes e não como um chamado para o seu comprometimento, afinal, a operação ainda não tem segurança como prioridade ou a vida como valor.

Ética e valores humanos são construídos e não simplesmente despertados por uma palestra motivacional ou um treinamento colaborativo maravilhoso. Temos a tendência em acreditar em bala de prata ou salvadores da pátria para situações que envolvem desde política pública até gestão empresarial.

É normal nos desanimarmos frente a um desafio tão longo, cartesiano e complexo, ainda mais quando os resultados não são tão animadores. Mesmo assim, evite os caminhos fáceis e não perca a esperança de que você viverá e trabalhará em um local, empresa, cidade e país mais justo, ético e que valorize a vida humana. Se você perder essa esperança, estamos todos perdidos.

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