Certa vez, ouvi de um diretor a seguinte frase: “se segurança fosse um valor para nós, não precisaríamos falar disso o tempo todo”. Realmente, se você precisa lembrar as pessoas todo o tempo de alguma qualidade sua, provavelmente, é mais uma pretensão do que uma qualidade real.
Fiz uma postagem na semana passada que chamou a atenção de muitas pessoas e várias me escreveram para dizer que essa era a dúvida daquele momento na empresa em que trabalhavam. A postagem é aquela que levava à reflexão do que fazer primeiro: desenvolvimento de liderança ou diagnóstico de cultura de segurança?
Muitas reflexões diferentes me foram relatadas e eu vou compartilhar com vocês a que eu fiz e que gerou a postagem. Gostaria de sugerir que lessem esse texto lembrando que estamos em abril e que neste mês comemoramos o dia mundial da segurança.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) instituiu o dia 28 de abril como o Dia Mundial da Segurança e da Saúde no Trabalho, em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. No Brasil, a Lei 11.121/2005 instituiu o mesmo dia como o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.
Muita atenção: o dia mundial da segurança é sobre as vítimas, não é sobre líderes ou sobre a empresa!
Quando uma fatalidade ou uma lesão grave ocorre como resultado de um acidente de trabalho em uma organização, há um evidente sintoma de que muita coisa não está bem nos níveis operacional, tático e estratégico. Nenhum acidente que resulta em morte ou lesão grave é fruto do acaso, azar, conspirações ou comportamento inseguro.
Quer errar na tratativa do acidente e correr o risco de passar pela mesma experiência trágica, novamente? Demita pessoas e deixe claro que foi por causa do acidente, ou melhor, por causa da lesão ou da fatalidade.
Quer aumentar exponencialmente o efeito desastroso do erro na tratativa do acidente? Reconheça os líderes pelo trabalho deles, pouco tempo depois do acidente fatal ou grave. Sim, alguns já fizeram e outros o farão.
Acidentes de trabalho fatais e de lesões graves possuem causas sistêmicas profundas na maturidade da liderança, nos processos e nos sistemas organizacionais. Líderes precisam refletir de maneira madura, sob orientação e de forma organizada sobre o que aconteceu. Líderes precisam entender que as ocorrências de fatalidades e lesões graves não convivem com a máxima de que a “segurança é inegociável”. Se ocorreu uma fatalidade, negociou-se a segurança e a integridade física e mental das pessoas em troca de produção. Fato!
Devemos entender se o mantra de que “segurança é inegociável” se trata de um fato ou de um desejo para o futuro. Se achar que é um fato, desconfie, pois você não deveria ter que lembrar as pessoas disso. Se for uma aspiração para o futuro, aja de acordo.
A equipe de segurança, mesmo em um ambiente hostil ou de baixa maturidade em segurança, tem a obrigação de, ao menos, mostrar que os esforços devem ser na direção da reflexão sobre causas sistêmicas. Não devem, nunca, após eventos graves, capitanear momentos de reconhecimento.
Como será o dia mundial da segurança na sua empresa? E os outros dias?
Comments