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Há trabalho ilegal na sua empresa? Não? Tem certeza?

Atualizado: 8 de out. de 2020

Ontem, dia 15 de Março, um jovem de 16 anos morreu na Marginal Tietê em São Paulo. Ele estava em um caminhão carregado de tijolos, parado por problemas mecânicos, que foi atingido por outro, também carregado de tijolos, às 5h. Detalhe: ele era ajudante do motorista. Por enquanto, os fatos são esses. Alega-se excesso de velocidade e outros fatores que serão investigados, ou não. Vamos aguardar. Dificilmente saberemos o que de fato ocorreu, pois a mídia não cobrirá o assunto.


Pensei bastante sobre o ocorrido e inferi algumas coisas. Um adolescente de 16 anos estava trabalhando de ajudante às 5h da manhã, em um caminhão carregado de tijolos. Bem, se ele não ajudou a carregar o caminhão, certamente iria ajudar a descarregar. Imagino que ele e mais um ou dois ajudantes iriam descarregar 20 toneladas de tijolos. Para estar na marginal às 5h da manhã, saindo de Tatuí (origem do caminhão), ele deve ter acordado por volta de 3h da manhã. Obviamente, no dia de ontem ele também não iria à escola. Se é que estava matriculado em alguma.


Eu sei que algumas pessoas irão dizer que quando jovens trabalharam, o caráter se forma. Não vou argumentar com esse tipo de pensamento, mas vou dar uma informação: a Constituição proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos jovens com 16 e 17 anos. E permite, em caráter excepcional, o trabalho do adolescente com idade entre 14 e 15 anos, desde que seja na condição de aprendiz.


É isso. Lei a gente cumpre. Podemos discordar, debater e discutir, mas devemos cumprir. Em minha opinião, essa lei está correta. Esse acidente mostrou da pior forma possível o porquê dessa lei estar correta. A corda costuma arrebentar do lado mais fraco.



Vamos ampliar nosso horizonte pensando nas seguintes perguntas:

- qual a responsabilidade do fabricante dos tijolos? Ele está ganhando dinheiro à custa do trabalho de um adolescente em condição precária, quer ele saiba disso ou não. Por favor, não argumente se o frete era FOB ou CIF, isso é irrelevante, pois se trata de um mero acerto comercial;

- qual a responsabilidade do cliente do fabricante de tijolos? Difícil avaliar, pois a mercadoria não foi entregue. Se tivesse sido entregue, poderiam ter negado a carga por existir um adolescente trabalhando em condições precárias. Mas acho improvável, iriam mandar descarregar;

- qual a responsabilidade do caminhoneiro? Essa é fácil. Além de a corda arrebentar no lado mais fraco, o caminhoneiro poderia não ter aceitado o adolescente como ajudante na cabine.


O que deixa isso tudo ainda mais revoltante é que aconteceu numa das principais avenidas do país! Agora, antes de julgar, tenha um momento de introspecção e pense na sua cadeia de suprimentos. Será que isso não está acontecendo nela? Tem certeza? Pense na sua responsabilidade! O que você tem feito para evitar que ocorra o mesmo com seus clientes e fornecedores?


Um abraço.


Eduardo Machado Homem


 
 
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